Hoje tive uma manhã WAX ON, WAX OFF.
Qualquer pessoa da minha geração e arredores sabe do que estou a falar, do Mr Myagi e das suas aulas com o Karaté Kid. Aquele filme conseguiu marcar-me com uma explicação tão simples acerca dos hábitos rústicos que deram origem ao karaté. Desde sempre que senti que trabalhar madeira e outros trabalhos manuais nos ensinam imensa coisa.
Mas, de volta ao trabalho...
Hoje foi dia de rebaixar o corpo do instrumento para colar o tampo.
Depois disso pus-me a lixar o exterior da caixa de ressonância, e aqui sim: WAX ON, WAX OFF. No filme Karaté Kid, o velho mestre japonês ensinava o puto americano a lutar Karaté pondo-o a engraxar móveis, pintar a vedação do jardim e assim ensinava-lhe a parte espiritual e coreográfica desta arte marcial (eu sei que quase todos sabem mas para os cotas que me lêm tem de ser).
Estive cerca de 2 horas a lixar, a lixar, a lixar. O que para o comum dos mortais é uma valente seca, para mim foi um prazer, fui buscar o ipod por causa do barulho dos 3 berbequins que trabalhavam ao mesmo tempo e estive ali na companhia de Prodigy e Quadrilha a aperfeiçoar a madeira.
No dia em que comecei o instrumento era este trabalho mas em bruto, com uma grosa, nesse dia quando dei por mim estava a dar ao instrumento a forma de uma mama. Todo entusiasmado fui mostrar ao Sr Costa e ele imediatamente agarrou no meu projecto de Baglamas e desbastou-o. Nesta altura ainda não falava grego comigo...
Hoje, quando dei por mim a mama tinha reaparecido, ehehehe. Desculpem-me este momento mas só quero partilhar algumas coisas que podem ir na cabeça de um carpinteiro em trabalho.
Nesta fase do trabalho afina-se o timbre do instrumento ao encontrar um compromisso entre paredes finas para a vibração mas com resistência suficiente. Digo eu.
Bom, chegou a hora de colar o tampo. A lixagem ainda não é definitiva mas há-de ser continuada.
Antes de colar o tampo colei uma etiqueta com Rodrigo Viterbo Vasiliko 10/10. Para mais tarde recordar...
Está na hora de nos despedirmos do interior do instrumento porque ele vai ser fechado. Mais meia dúzia de ajustes e colámos o tampo, apertado com câmara de ar, uma boa ideia para importar para os didgeridoos...
Estávamos a chegar ao fim da manhã e os nossos amigos turcos lá ganharam coragem para arranhar um desabafo em inglês com a mentora: We are bored! Queriam saber onde podiam ir sair à noite em Kiato.
Mais uma vez saí da oficina e esqueci-me de almoçar porque continuei a trabalhar no didgeridoo de papel que tinha começado.
E lá chegou a tão desejada aula de grego. Começou bem, eu a sentir-me todo vaidoso porque já sabia algumas letras e algumas palavras e até já tinha estado a descodificar o alfabeto, vejam lá. Passado um bocado já estava todo baralhado, isto é complicado... Aprendemos o alfabeto e algumas expressões básicas do tipo: quanto custa, onde fica o comboio e etc. No fim a professora deu-nos algumas sugestões de sítios a visitar por aqui e acabou a aula.
Durante a aula tive de fazer traduções entre inglês e francês, associar sons gregos e ingleses a portugueses e ainda espaço para ouvir palavras em turco. No fim da aula a Emilie fez-me um pergunta e eu não percebi nada, tinha a cabeça feita em água.
Fui lavar a casa de banho (isto de se lavar a casa de banho é bom porque somos os primeiros a tomar banho num chuveiro limpinho), tomei banho, peguei no didgeridoo e fui para o miradouro tocar.
Ao fim de uma hora a partir pedra apareceu-me do nada uma técnica nova que merece ser explorada. Parece que afinal valeu a pena ver-me grego. Agora sim vale a pena utilizar o trocadilho.
Tenho feito estas sessões de prática com o didgeridoo em que vou para o miradouro com a máquina fotográfica e tenho-a ali à mão, quando sai algum ritmo ou frase interessante ligo-a em modo de video e volto a tocar. Depois venho para casa, extraio o som do video e vou construindo uma biblioteca de sons que merecem ser trabalhados.
Alguns dos rapazes foram até Kiato, talvez curtir a noite, perguntaram-me se eu queria ir. Não obrigado, além de não ter dinheiro para gastar tenho imenso trabalho para fazer por casa.
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