terça-feira, 12 de outubro de 2010

dia 7 - 12 de Outubro - aprendizagem e partilha: isto sim é vida

Ontem esqueci-me de escrever aqui uma história que me aconteceu de manhã e que quero muito partilhar.
Quando estava a trabalhar no meu Baglamas o berbequim começou a aquecer demais, então parei para aquilo arrefecer. Diz-me a Ageliki: you can take a coffee now. Eu disse que não, obrigado. Or you can smoke. No thank you, I don't smoke. Maybe it's the time to start!
Muito bom, I'm loving it...

Ontem ao fim da tarde comecei o primeiro didgeridoo com rolos, já que vou estar aqui um mês com tardes livres e sem poder deslocar-me tenciono aproveitar o tempo para trabalhar no meu novo site e a fazer didgeridoos, uma vez que o tempo não permite grandes passeatas a pé pela região.


Voltando ao didgeridoo: tinha poucos rolos e muito tempo por isso dediquei-me a preciosismos. Acho que vai dar um bom didgeridoo.

À noite não se passou grande coisa e não houve grande dinâmica cá em casa, aproveitei para trabalhar no site.

Hoje de manhã, às 8h estávamos 3 prontos, os outros 3 a roncar ainda... A Ageliki chegou às 8h30 e lá me pediu para os ir acordar, eu fui mas disse que não era paizinho de ninguém e que eu tinha acordado, por isso eles também tinham de acordar! O despertador do meu telemóvel é virtualmente impossível de não ouvir, tendo em conta que os dois que estavam no meu quarto não se levantaram...

Eu, por mim, trabalhava na oficina de manhã e de tarde, mas não nos querem deixar lá sozinhos... Eu sei que não me magoava e que dentro de dois dias já tinha um excelente didgeridoo mas enfim, compreendo....

Hoje voltei a discordar com as técnicas de construção e de ensino aplicadas pela Ageliki mas continuo a dar o benefício da dúvida e a fazer o que posso com o que me dizem para não ser muito chato. De qualquer forma lá consegui fazer um bom avanço no interior do corpo do instrumento, o que me deixou bastante satisfeito com o trabalho. Adoro trabalhar com madeira, transformar este material num instrumento de música é sempre um prazer, perceber onde e como se constroem as diferentes frequências. Sou um apaixonado....

Ao fim da manhã viemos fazer a nossa primeira aula de culinária. Aprendemos a fazer SPANAKOPITA, uma tarte de espinafres, cebolinho e uma coisa que eles chamam de anis mas acho que não o é. Mais uma vez a aula foi ver fazer e limpar a mesa e os utensílios... Ok!
Ainda vou decidir se faço um post com a receita ;-)
Estávamos cheios de fome e diz-nos a Ageliki que demorava cerca de uma hora a ficar pronto. Eu estava cheio de fome por isso ataquei o pão e, como ouvi sons na oficina, fui ter com o Senhor Costa ou Costas ainda não percebi muito bem.

Ele estava a preparar os instrumentos para os próximos voluntários. O instrumento nasce de vários restos de madeira colados como se vê na foto, depois ele desenha o instrumento e as linhas de guia para o cortar e, na serra de fita, corta-os até ao estado em que nós os começamos a trabalhar.
Perguntei se podia estar por ali a ver e a fotografar, ele disse logo que sim e até tirou o boné para aparecer nas fotos, eheheh
Quero ver se ainda o convenço a deixar-me cortar um destes na serra de fita, tenho saudades de trabalhar com esta ferramenta, dá-me logo vontade de desatar a fazer didgeridoos quando a vejo... Controla-te Rodrigo!
Bom, entretanto também esteve a colar uma parte do meu Baglamas que tinha descolado.


Perguntei-lhe se sabia tocar o Baglamas e ele rindo disse logo que não. Tenho pena, gostava de ouvir o meu no fim!

Mesmo sabendo que podia passar por aqueles aprendizes chatos que não largam o mestre arrisquei a fazer umas quantas perguntas. Se ele não me quisesse aturar que o dissesse, eu não ia desperdiçar a oportunidade.

Lá lhe perguntei como são construídos os alaúdes.
Ele desatou a falar-me em grego mas de forma super expressiva.
Mostrou-me um molde, uma máquina de aquecer e modelar madeira e um corpo de alaúde já feito.
A técnica é construir um  molde do corpo que se pretende, a seguir cortar umas ripinhas de madeira de 3mm de espessura, colocar dentro de água durante uns dias, não podem ser madeiras duras, levá-las à máquina de moldar, um tubo de metal que aquece por dentro, e tentar aplicar no molde. Vai-se ajustando até ter a forma pretendida e, quando esta se consegue, pregam-se as pontas para fixar. Depois adapta-se outra do lado esquerdo, a seguir do lado direito e assim, alternadamente até ao fim.

Depois é só adaptar o braço e o tampo.
Tudo isto em grego! Eu estava a perceber tudo mas confesso que me dava vontade de rir como o senhor falava falava e falava sem eu perceber uma só palavra e a perceber o conteúdo todo!

Entretanto apareceu a Ageliki, eu agradeci e ele respondeu simplesmente: não precisas de agradecer porque quem sabe fazer as coisas tem obrigação de as partilhar com quem quer aprender. Os instrumentos que os voluntários fazem são mais fraquitos (eu percebi a palavra souvenir lá no meio) mas servem para eles aprenderem como se constrói.
Antes de chegar a tradução já eu tinha percebido o que ele tinha dito e, para além de concordar e ser a minha filosofia acho que muita gente por Portugal devia ouvir isto umas vezes, tanto músicos como construtores, de didgeridoo e não só!

Entretanto a Ageliki sugeriu-me que lhe mostrasse o didgeridoo. Expliquei-lhe o que era, como era feito, aborígenes, Austrália, eucalipto, térmitas, o costume; toquei um bocado, ele gostou de ouvir, perguntou se os sons que fazia eram produzidos por mim (os construtores de instrumentos são tão inteligentes, ihihiih) e ainda experimentou o de PVC! Estava a fazer a excessiva pressão habitual, foi a minha deixa: Sigá Sigá, com mais calma, ehehehe.
Expliquei-lhe que também fazia com madeira, mostrei-lhe como, enfim, já perceberam tentei deixá-lo com vontade de fazermos um...
Também lhe mostrei o projecto com os rolos e ele percebeu o valor dessa técnica sem aquela expressão do costume: oh! é de rolos de papel!

Viemos provar a dita tarte:
Ninguém gostou muito, eu gostei! É assim para o amargo, o que me agrada e já soube bem ao almoço acompanhada de uma cerveja do Lidl!

Aquilo que não agradou nada foi o estado em que a cozinha ficou...

Mas isto foi o ponto de partida para uma conversa comunitária que já estava a ser necessária: limpezas e lixos - um mês com 6 pessoas, trabalho bem dividido não custa nada a ninguém. Hoje vou atacar com as limpezas, e já levei o lixo 2 vezes, o próximo round não é meu!

Entretanto 2 dos turcos estavam a preparar-se para ir à cidade e a Emilie também então estivemos a combinar pormenores de viagem com recurso a google translator que foi logo abandonado dando o lugar ao Viterbo translator. A cena era digna de se ver: o Emrarr falava em turco com o Mohammed, o Mohhammed falava em inglês comigo, eu falava em francês com a Emilie e quando ela respondia em inglês ainda me cabia traduzir do inglês dela para o do Mohammed! Quando ela respondia em francês fazíamos o primeiro caminho mas no sentido inverso. Se acharem confuso lembrem-se que eu entretanto ainda tinha de traduzir do francês suiço para o francês francês. Uau, isto vai-me exercitar o cérebro!!!!

Entretanto os turcos convidaram-me para um barbecue cá em casa com os outros turcos que estão noutro projecto da mesma associação a uns kilómetros daqui, eu disse logo que sim mas pedi que eles tentassem falar mais inglês porque se não é complicado para mim por mais que queira aprender turco também.

Estou numa posição cá em casa que já vêm chamar sempre que é preciso resolver alguma questão de comunicação, gosto disso porque me dá treino para isso mesmo: aprender a comunicar e tenciono aprender algum grego e algum turco com isto tudo.

Para mim poucas coisas mais importantes nesta vida há do que a aprendizagem e a partilha, sem isso não somos nada. Cada dia vivido neste ambiente é de aprendizagem e de desafios e isso é mais importante do que sair daqui com um bom Baglamas.

Ficam 2 fotos do ambiente de oficina (pequena mas cheia de gente!)

Sem comentários:

Enviar um comentário