segunda-feira, 8 de novembro de 2010

dia 33 - 6 de Novembro - workshop e concerto

Este foi o meu último dia inteiro passado na Grécia.

De manhã tomei um pequeno almoço gigante com iogurte grego com mel e nozes, pão feito em casa, queijo fumado, tomate, ovo cozido, maçã com mel, passas, amêndoas e canela, bolo de chocolate, sumo de laranja e café, não sei se me esqueci de alguma coisa... Soube-me pela vida e ainda levei alguns restos para o quarto que comi depois do concerto!

Depois fui dar uma volta de bicicleta por Xylokastro, aproveitei para ir investigar até mais longe do que já tinha ido mas as estrada nacional não me estava a agradar e não havia mais por onde andar, voltei para o hotel.
Pus o fato de banho e fui ao mar mas desta vez perguntei se lá no hotel não tinham óculos de natação. UAU! Que experiência brutal! Deu para perceber que o fundo da água vai no máximo até 2 metros de profundidade durante uma extensão de uns quantos metros e, de repente, afunda, e é isso que faz as diferenças de azul na água. Ainda deu para estar a ver os peixes a vasculhar o fundo. MUITO BOM.

Depois fui tomar banho e a dona do hotel convidou-me para almoçar, um peixinho grelhado, vingança daquele que não tinha conseguido comer no dia anterior.

Entretanto, às 17h30 certas estávamos prontos para começar o workshop!!!! This is not greek style.
O primeiro workshop que dou num país onde quase não existe o didgeridoo são 3... mulheres! E dois cães, a Tequilla e o Bofor, uns castiços... Em Portugal as mulheres quase não querem aprender a tocar didgeridoo.

Quando dizemos de onde somos, perguntamos se a pessoa já foi a Portugal e ela tem de pensar uns quantos segundos ficamos com a sensação que não temos uma pessoa vulgar na nossa frente... Angeliki Andriopoulou é uma atleta de alta competição em Ski Aquático e campeã mundial da modalidade.
Ela e uma amiga eram amigas da Daphne e vieram ao workshop para passar um fim de semana diferente.

A terceira aluna foi aquela senhora que me conheceu na praia uns dias antes, que entretanto disse que tinha estado em Portugal mas que o Porto foi a cidade preferida porque adorou o S.João, a festa, que na Grécia não há nada disso!

Todas conseguiram fazer tudo o que tinham para aprender: drone, harmónicos, voz, toots, bochechas, ritmos e como fazer a respiralão circular, mas ao fim de três horas e meia estavam todas com aquela cara de desespero que eu conheço tão bem. Não tinham noção do quamto tinham trabalhado e evoluído. O workshop foi todo dado em francês e inglês por isso também eu estava cansado no fim, mas muito satisfeito com as minhas alunas.

Fomos jantar e entretanto com comçaram a chegar algumas pessoas, o Joseph e a namorada, aquele casal que me deu dormida em Atenas, os voluntários franceses, namorada de um deles que está em Xylokastro e o sueco, o dono da escola de música onde já tinha tocado que trouxe mais dois amigos, uma professora de Xylokastro que tinha sido convidada pelas minhas duas alunas (que quando soube que eu era do Porto até arregalou os olhos para falar do Vinho do Porto - o Porto somava pontos! O Porto cidade, atenção)

16 pessoas e 2 cães, e às 22h estávamos prontos para começar o concerto, again, NOT Greek Style!
A dona do hotel serviu vinho e uns petiscos que não chegaram ao fim do concerto para vos dizer se eram bons.

O Joseph trouxe o didgeridoo de eucalipto dele e eu também o usei no concerto, o que o deixou todo orgulhoso. No fim ofereci-lhe um dos didgeridoos de papel e ele ficou todo feliz!

No fim do primeiro tema a malta bateu palmas e eu pedi para ou não baterem palmas ou fazerem-no à surdo, abanando as mãos no ar e isto resultou num

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

dia 32 - 5 de Novembro - escolhas difíceis

Hoje, conforme combinado ontem, para minha surpresa, às 8h lá estava o Sr Kostas a bater à porta.
Deixaram-me em Xylokastro, no hotel onde vou dar o workshop, mas ainda estava fechado.

Uma mala, uma mochila, um Baglamas e 3 didgeridoos às costas fui até à praia e estive por ali a admirar a neblina que estava sobre o mar, este por sua vez estava incrivelmente límpido!
O sol estava quente, tirei a t-shirt, fui molhar os pés na água, esbocei uma entrada na água mas ainda estava para isso, estive a tocar didgeridoo durante uma hora ou duas, hoje perdi um pouco a noção do tempo.

Estava com lastro a mais resolvi ir ao hotel ver se já estava gente, estava tudo aberto mas não encontrei ninguém. Entrei, deixei a mala, casaco, didgeridoos e Baglamas, pus o didgeridoo desmontável na mochila e siga até à cidade comprar umas serras que não encontro em Portugal, comprar maçãs e pão e ver se tomo um café.

Fui pela mata que fica à entrada da cidade, onde trabalham os voluntários e decidi que hoje ainda havia de lá ir correr..

Antes de entrar na mata parecia que estava sozinho no mundo, sem ruídos, só com a cadência das ondinhas, do outro lado da mata apanhei com carros, imensas pessoas na rua, muita poilitiquice (eleições no domingo) enfim, uma confusão greek style.

Fui buscar as serras, café, encontrei o Efthimios, o presidente da associação, estive a dar-lhe a minha opinião sobre alguns aspectos do projecto, ele disse que hoje ia avisar o resto dos voluntários sobre o concerto (há duas semanas que lhe ando a pedir que o faça - greek style again). Fui comprar pão e maçãs, nas maçãs arredondaram-me de 1€27 para 1€!!!! Fiquei parvo, o primeiro desconto que tive aqui na Grécia.

Farto do barulho voltei para as praias, aquela água é viciante.... Vou ter saudades.
 Hoje estava particularmente límpida então fartei-me de tirar fotografias.

A entrada na água custa porque as pedras magoam os pés, mas quando saímos não ficamos com os pés cheios de areia, o que é prático. Depois das pedras estarem ao sol umas horas é uma delícia deitarmo-nos por cima delas.

Passei assim umas boas duas horas a entrar e sair da água para nadar e ir até um pouco mais à frente.

Depois parava para tocar didgeridoo, depois ia outra vez à água. O difícil era escolher o que fazer a seguir!

Não pensava em horários nem em compromissos, à noite estava combinado ficar aqui no hotel, como estava perto do hotel não precisava de me preocupar com nada.

Foram umas férias bem merecidas estas horas.









Depois fui ao hotel, a dona já tinha chegado, fiz o check-in, troquei de roupa e fui correr para a mata.









Entretanto a Daphne, a dona do hotel tinha comprado os tubos e acessórios de PVC para as duas alunas que tenho amanhã e levei-os para o banho comigo - eu sei que isto soa de forma muito estranha. Assim não se desperdiça água a lavar uns tubos de PVC.

Vale a pena falar sobre o hotel onde estou, fica a 30 metros da praia, eu digo hotel mas é muito mais acolhedor do que um hotel, é mesmo agradável. Quando me aconselharam contactar este espaço para organizar um workshop fiquei logo com boa impressão do espaço, a Daphne diz que é grega mas não pode ser porque é super organizada, pontual e dinâmica, e também se queixa de algum Sigá sigá a mais (Sigá sigá quer dizer algo como "tem calminha, sim?").

Tinha decidido ir a um tasco aqui perto ver se comia pexinho fresco grelhado. Fui ao sítio aconselhado mas o homem não falava inglês e só dizia que não a tudo, mesmo ao sinal universal da mão à frente da boca a indicar comer, manger, etc. Percebi que ele não estava com grande vontade de apagar o cigarro e levantar-se para me atender, agradeci e saí.
Fui a outro que tinha vista no caminho. Lá fui comer suvlaqui outra vez, já tinha sido isto que me tinha safado em Atenas.
Se clicarem na imagem podem ver o grau de limpeza dos frasquinhos da pimenta e do sal..

Também fotografei uma montagem fotográfica de uma paisagem americana com um cavalo preto numa posição grandiosa.

Quando tiro estas fotos é para partilha sincera com os meus fiéis leitores! Isto de andar em viagem é engraçado e quando se viaja só concentramo-nos mais no que vemos e por onde passamos mas às vezes é pena não ter com quem partilhar as coisas...

 Aqui está o meu fabuloso jantar:
 Depois do dia de hoje, e com a sede com que estava, ataquei esta Heineken com vontade mas rapidamente ela trepou e deixou-me com uma soneira bestial. Paguei por esta bela e típica refeição grega (atenção ao pão com sésamo e ao limão tão usado na gastronomia grega) 11€50! É tudo caríssimo por aqui.

O meu dia chegava ao fim, voltei para o meu apartamento de nome Mimosa.
Esta rica vida está a acabar, amanhã tenciono ir correr e nadar e à tarde tenho workshop, pelo menos 2 alunas, e à noite concerto, quero proporcionar a toda a gente um excelente momento ao som de didgeridoo. Domingo já vou dormir a Frankfurt e chego ao Porto segunda-feira! Foi muito bom mas tinha de acabar, pelo menos para já.

dia 31 - 4 de Novembro - greek style

Hoje não tenho imagens para este post e duvido que alguém vá perceber alguma coisa mas se chegarem ao fim vão sentir-se como me sinto a estas horas: passar por tudo sem perceber nada e chegar a bom porto...

Os planos para o dia de hoje eram: acordar de manhã, fazer algumas arrumações, preparar algumas coisas para o concerto da noite e depois do concerto voltar para casa para saír no dia seguinte porque nesse dia chegavam os voluntários novos.

Pois, mas isto aqui não é como se combina, é greek style!

Ok, acordei de manhã e estive a preparar umas coisas para o concerto, alguma típica procrastinação fez com que deixasse alguma arrumação para mais tarde.
À hora do almoço entra-me a Ageliki, a irmã e o Sr Kostas pela casa a dizer que tinha de sair hoje e desataram a fazer camas e arrumações.
Já me tinham dito que tinha de sair a dia 5, hoje que tinha de sair hoje, depois ao telefone com o escritório podia ficar, desligo o telefone e a seguir ligam e a Ageliki já me disse que o Efthimios me vinha buscar a seguir ao concerto, às 22h e que dormia em Xylokastro, ao fim da tarde ele disse que tinha de ser às 21h30, eu disse que tinha concerto, depois disse que eu podia ficar que o Sr Kostas me levava amanhã às 8h30, no fim do concerto tinha uma sms a dizer que afinal era às 8h.
Vamos a votos, quem acha que isto fica por aqui e quem acha que ainda vai dar umas quantas voltas? E  nãoi me lembro de todas as voltas que isto deu entretanto....

Bom, com 3 pessoas a lavar, aspirar, fazer camas, etc, arrumei as minhas tralhas encostei a um canto e fui de taxi para Kiato.

Programa: ir buscar as lentes novas para os óculos e concerto.

No dia anterior recebo um mail do dono da escola de música a dizer que tinha baixado os preços porque se não o tivesse feito ninguém vinha... Achei mal mas como as voltas que este concerto deu foram quase tantas quantas as da casa preferi não trocar mais mails nem mensagens, quando lá chegasse falava com ele.

Aqui pela grécia não se trabalha depois do almoço até às 17h, estive a beber um café numa cidade deserta. Fui à óptica deixar os óculos e fui dar uma volta para fazer tempo. Estive numa zona onde ainda não tinha estado, um portozinho que há em Kiato e, mais uma vez, perdi-me com o azul e transparência da água. Olhando para aquela água tive de saír dali porque estava a sentir uma vertigem imensa, uma vontade de me atirar à água! Tentei fazer este video mas não mostra nem um pouco do azul da água, que maravilha, parecia uma piscina! Mesmo no fim do paredão, que devia ter uns valentes metros de profundidade, se conseguia ver o fundo da água!
Bom, voltei à óptica, pus as lentes e fui levá-las ao oftalmologista para confirmar. Ele voltou a falar no José Mourinho e no Fernando Couto, por causa do meu nome, disse que sim senhor que os óculos estavam bem e um aperto de mão.

Na rua estava-se a pôr animação! Vim a perceber que na rua onde eu ia tocar ia haver um comício com powerpoint/datashow, microfone/púlpito/colunas e palco! Tendo em conta que o edifício é antigo e não isola som nenhum fui até à escola dizer que se aquilo continuasse assim não ia haver condições para o concerto, ao chegar à escola, mesmo à porta, estava dois fabulosos peruanos com sound system (e eu a pensar que só em Portugal, ohhh) a tocar flautas e shékéré e a vender bugigangas. Uma animação.

Bom, já convencido que além do barulho não ia haver gente para o concerto, nem vou contar a forma como foi divulgado e promovido, e começa a chegar gente. Uma senhora mais o filho foram os primeiros, quando souberam que não ia haver concerto por falta de condições, ela diz logo que ia enchotar os peruanos e o puto faz uma cara super triste. Pronto, derreti-me todo e disse que fazia uma demonstração e que no sábado ia tocar num sítio aqui perto que podiam ir que fazia o mesmo preço que ali.
Chegaram mais umas pessoas e lá estive a tocar, a explicar sobre o didgeridoo com tradução para grego, entretanto chegaram mais duas pessoas, penso que ao todo foram 10 pessoas mais um cão, um grupo pequeno mas que gostou muito do concerto.

Aquilo que ia ser só uma demonstração acabou por ser um concerto de quase hora e meia, mas em versão completamente fora do alinhamento previsto. Nalguns temas o dono da escola tocou guitarra, mostrei uns videos e umas fotos e estivemos por ali. Ainda compararam o som do didgeridoo a Jean Michel Jarre, não é um insulto, uma senhora que apareceu a meio vinha cheia de vontade de mostrar a toda a gente que tinha andado a pesquisar na Net e sabias umas coisas sobre didgeridoo.
No fim depois de terem ido todos embora ficou uma professora, e os dois donos da escola a fazer perguntas, ela a perguntar porque não tinha sido divulgado, etc etc. Esta professora ainda me disse que por eu ter uma mente muito forte e uma alma muito grande e sensível gostava de me mostrar uma colecção de instrumentos que tem em casa mas agora já não vai dar. Ainda estive a improvisar mais um pouco com a guitarra e depois vim para casa.
No fim de contas foi uma trapalhada grande com pagamentos e ninguém pagou nada. Combinou-se que hoje não pagavam mas que no sábado iam ao preço de hoje, e acabei por tocar o concerto todo e ninguém pagou. O dono da escola deu-me 20 euros para compensar. Horários, eleições, barulhos, confusões: greek style!

Chego a casa e tenho a casa cheia de homens, um cachecol verde e branco do ASSE (padrinho, que clube é este?) em cima da televisão, a comida toda que tinha deixado pousada tinha desaparecido e eles já entretidíssimos a conhecer a casa. Cumprimentei-os, um turco, um sueco não nascido na Suécia, e 4 franceses. Estivemos a travar conhecimento, a perguntarem-me coisas, eu a dizer-lhes aquilo que gostava que me tivessem dito antes para poupar tempo e dinheiro, estive a ensinar o sueco a construir didgeridoos porque ele ficou logo filado nos didges, também me perguntou acerca de discotecas, mulheres e praias de nudismo, este vem com vontade....
À partida vão todos ao concerto no sábado, vou-lhes fazer um preço especial porque sei que isto de ser voluntário não é fácil. Estivemos por aqui na conversa até que alguém viu as horas e começaram a desertar.

Amanhã devo saír daqui às 8h, em Xylokastro não sei onde vou ficar durante o dia com um Baglamas, 3 didgeridoos, uma mala e uma mochila. Sei que posso ir para o hotel mas se calhar só contam comigo à noite. Se estiver bom tempo quero ir nadar, é um raro luxo nadar no mar descontraídamente em Novembro!

Já nem me preocupo muito, Greek Style!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

dias 29 e 30 - 3 e 4 de Novembro - esperas...

Estes dois dias foram de verdadeiro ralenti....

Ontem a Ageliki veio cá pôr a lavar a roupa de cama dos turcos e descobrimos que eles deixaram sapatilhas, camisolas, perfumes, meias, toalhas, enfim....


Cá por casa vou ensaiando para o concerto de hoje e para o de sábado, gerindo os emails, trabalhando no site e no myspace, vou correr, ontem rapei o cabelo que já andava a precisar - desculpa mãe mas teve de ser ihihihi.


Também já vou arrumando as coisas porque hoje é a minha última noite aqui, amanhã vou para o hotel onde vou dar o workshop e concerto. Já tenho duas pessoas para o workshop, agora vamos a ver se vem mais gente, para o concerto tenho informação que algumas pessoas virão mas sinceramente só na altura é que vejo. Os gregos são um pouco como os portuenses: queixam-se que não há nada a acontecer mas depois não aparecem no que se marca. Espero estar errado...



Entretanto as moscas têm sido uma grande companhia nestes dias! Tenho uma quantidade industrial de moscas a esvoaçar pela casa, a chagarem-me a cabeça, a reproduzirem-se em tudo o que é sítio, até em cima de mim, até a voar!!!!

Nas fotos fica uma homenagenzita a algumas das minhas companhias durante estes dias que aqui passei: o portátil que o meu pai me emprestou e me deu um jeitaço para trabalhar, os didgeridoos, aquele livro sobre a música do século 20 que tem sido no mínimo inspirador, a chávena de café, a água Bikos (a água aqui é tão mázinha....) e a máquina fotográfica foleirita e velhinha a precisar de reforma mas que muito jeito tem dado...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

dia 28 - 2 de Novembro - home alone

Muito pouco para contar sobre o dia de hoje...

Acabei o didgeridoo de papel, estive a tocar e a trabalhar na divulgação do workshop que vou dar no Porto dia 28.

Ainda fui pedir ao Sr. Kostas um pouco de uma cola que ele lá tem para fazer uns testes.

Depois 2 dos turcos foram-se embora...
 E depois foram os outros dois!
E fiquei outra vez sozinho como no dia em que aqui cheguei, que parece que foi ontem!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

dia 27 - 1 de Novembro - reflexão e limpezas

Hoje de manhã deu-me para isto:

Sentado à mesa do pequeno almoço numa casa na Grécia tenho 5 ou 6 moscas, muito mais pequenas do que eu, que me tiram do sério pela insistência e pontaria onde me chateiam, fazem-me levantar para mudar de sítio.

Estou a usufruir de um programa europeu, criado por políticos sem outras intenções que não sejam políticas, dizem-me: jovem, queres ir viajar? Vais trabalhar um determinado tempo para outro país e pagamos-te tudo. Tu aprendes coisas novas, fartas-te de curtir e em troca agradeces o facto de existir uma Europa, onde vais trabalhar daqui a uns tempos.
Eu, pela música, vim parar à Grécia. Todos nós sabemos como Portugal está e todos temos notícias de como a Grécia está. Eu que aqui estou digo que a Grécia é muitíssimo parecida com Portugal mas que já se espatifou antes. Digo às pessoas que conheço por aqui que hão-de ouvir falar de Portugal nas notícias, que estamos a ficar como eles. Espero estar errado. Aqui onde, em tempos, se filosofou e se politicou à séria dou por mim a ganhar uma nova consciência cívica.

Estou farto de ver videozinhos com imensa graça e pontaria sobre os temas que afectam o nosso país, estou cansado de comentários espalhados por este facebook fora recheados de insultos aos políticos portugueses. Estas atitudes fazem-me lembrar aqueles cães pequeninos que se fartam de ladrar muito esganiçadamente e muito nervosos mas que nunca chegam a morder. Já todos nós tivemos destes cães à nossa volta e sabemos que aquilo chateia mas conseguimos ignorar. Também já todos tivemos as moscas a incomodar-nos, a virem várias vezes às mão e à cara, umas a seguir às outras, e isso sim faz-nos perder a cabeça.

Eu diria que está na altura de ladrar menos e, em conjunto, ir atacar mais seriamente os problemas.

Se calhar está na altura de começarmos todos a fazer alguma coisa.

"A penalização por não participares na política, é acabares por ser governado pelos teus inferiores."- in (Platão)
Tirei esta frase do Grupo aqui no Facebook (é que isto também serve para outras coisas que não só partilhar videos) chamado Adere, Vota e Intervém dentro de um Partido. Cidadania para a Mudança http://www.facebook.com/group.php?gid=246936858817

A primeira vez que ouvi falar disto foi quando participei no TEDxLisboa e o João Nogueira Santos apresentou esta ideia. Podem ver a apresentação dele em http://www.youtube.com/watch?v=6KOcrfmRHPQ
Nesse mesmo dia:
Joaquim Casado, um verdadeiro Político explicou como conseguiu mudar tanta coisa na Ericeira sendo presidente de junta: http://www.youtube.com/watch?v=rbGcwY2ChFk
Maria Conceição explicou porquê e como criou um projecto no Bangladesh: http://www.youtube.com/watch?v=nEzDHQ7RmMI
- eu mostrei como com meia dúzia de trocos e materiais podemos fazer aquilo que achávamos que não podíamos: http://www.youtube.com/watch?v=DTZTaKxS0GA
António Barreto mostrou como os conhecimento dos números é importante: http://www.youtube.com/watch?v=HeJjTQir9qA

Ok, o texto vai longo, o que eu quero dizer é que realmente dá uma trabalheira bestial informarmo-nos de tudo, encontrar soluções, mexermo-nos para fazer acontecer as coisas. Mas quando não queremos ter esse trabalho, quando preferimos andar nas nossas vidinhas sem nos chatearmos muito porque é mais fácil e divertido gozar com quem tomou as decisões por nós, chegamos ao estado em que estamos hoje.

Eu conheço bem a minha geração, tenho a sorte de me cruzar e conhecer muitas pessoas e sei que poucas são as que fazem mais do que protestar e dizer piadas sobre o assunto. Eu vou mesmo aderir a um dos partidos e fazer algo mais por este nosso país fabuloso. Por favor informem-se, discutam, ouçam opiniões e vamos ver se todos damos um jeito nisto que as coisas não estão mesmo fáceis. Temos muito trabalhinho pela frente mas podemos ser agentes de mudança, podemos ter opinião e expressão.

Para começar e poderem ter algumas abordagens interessantes vão a http://www.facebook.com/group.php?gid=246936858817 e leiam o que por lá se escreve, é tipo os resumos europa-américa!

Talvez se estejam a perguntar porque raio é que o Rodrigo se lembrou disto assim de repente? A resposta não é difícil de encontrar e eu acredito sinceramente que podemos fazer alguma diferença, se cada um plantar uma árvore a apanhar um bocado de lixo talvez o próximo verão seja diferente, se cada um gastar um bocado menos de água, etc etc. Oh pá, vocês são pessoas informadas, sabem o que eu digo.

Quem tem vontade de viver um pouco melhor?

Não descansei enquanto não pus isto no Facebook. O Facebook é uma ferramenta com vantagens e desvantagens, hoje a vantagem foi fazer chegar isto a dezenas de pessoas com meia dúzia de cliques.
Acredito muito no poder de uma comunidade para operar mudanças na sociedade.

De manhã fui com a Ageliki ao oftalmologista e encomendar lentes novas para os óculos. Parece que vim aqui fazer a revisão dos 5000! E já me estava a tentar fazer a uma análises mas isso já é complicado demais.

Estive a conversar com ela sobre a situação política e de atitude do povo grego e somos mesmo parecidos.

Antes de vir para casa ainda fomos às compras e eu abasteci-me de barras de sésamo com mel, comprei 6 e não sei se vão chegar a Portugal, de tal forma eu gosto daquilo...

Chegámos a casa e esteve-se nas limpezas, ela acordou os turcos e andámos todos a fazer o ménage da maison. Ao dividir o trabalho eles disseram que eu não precisava de fazer nada e eu fiquei sensibilizado - afinal eles davam-se conta! - mas insisti e também ajudei.

Depois trabalhei mais um pouco no didgeridoo de rolos, é mesmo um dos melhores que fiz até hoje com esta técnica.
Vai-se estando aqui por casa, dois dos turcos vão amanhã embora, os outros dois no dia a seguir e eu no dia 5. Vou-me embora mas não para longe, para já só até Xylokastro, vou ficar 2 noites no hotel onde vou dar o workshop e o concerto, depois lá vou eu!

dias 24 a 26 - 29 a 31 de Outubro - pré-partida

Ainda não tinha passado tanto tempo sem escrever no blogue... A verdade é que depois de acabar o Baglamas a vontade de escrever esmoreceu um pouco...

Sexta feira estava um tempo péssimo, cada dia está mais frio e estava chuva e vento. Fui com a Ageliki ao dentista de manhã, nestes projectos temos um seguro que nos reembolsa despesas de saúde. E esta semana devo ir ao oftalmologista para fazer novas lentes...  Os dentistas aqui fazem parte do sistema nacional de saúde, mas o dentista do Centro de Saúde estava doente então tivemos de ir a um particular. Enquanto esperava pela consulta estive a dizer-lhe algumas das minhas opiniões sobre coisas que acontecem neste projecto.


Depois viemos para cima e ela esteve a ajudar o resto da malta na recta final para acabar os instrumentos.

Deixo aqui uma foto de um trabalho que ela esteve a fazer com o pirogravador na testa de um dos instrumentos que se tinha partido e o objectivo é disfarçar a colagem.









Depois estivemos a dar mais um pouco sobre teoria de construção: madeiras e medidas.

Uma curiosidade acerca do grego: temos imensas palavras quase iguais, todos aprendemos isso na escola mas a quantidade delas é enorme.
PAQUIMETRO diz-se exactamente desta forma em grego e Paqui quer dizer gordo. Para quem não sabe um paquímetro é um medidor de espessuras, eu achava piada quando a Ageliki perguntava pelo "fat meter".


De tarde estive a trabalhar no segundo didgeridoo de papel e fui correr outra vez, desta vez já com parte do caminho de regresso a correr e o devido sprint!!!

Sábado foi um dia meio estupidificante, estava a contar ir correr e começou a chover, aproveitei para trabalhar no didgeridoo e pouco mais.. Ao fim do dia estava imenso frio cá em casa então fui bater à porta do Sr Kostas para ligar o aquecimento, lá veio ele em pijama de cetim azul resolver o nosso problema, ehehee.

Hoje de manhã fui correr, depois fui a pé, com uma boleia "nos entretantos", até Kiato e depois de camioneta até Xylokastro despedir-me dos voluntários de lá que se vão embora amanhã e depois fomos um bocado à praia, eu fui o único que tomou banho. Poder tomar banho dia 31 de Outubro em águas limpinhas e nada frias é luxo a ser aproveitado, ainda que depois se seque ao sol que já se ia embora.
Estive a tocar um bocado de didgeridoo e um senhora que estava num grupo que estava a fazer Tai Chi na mata veio conversar e eu falei-lhe do concerto e wokshop. Pergunto-me se sempre vai haver público para os concertos e workshop, espero bem que sim, muita gente tem dito que vem, vamos a ver.

Depois vim até Kiato para ensaiar com o dono da escola de música onde vai ser o concerto de quinta-feira. Estivemos a tocar um bocado didgeridoo e guitarra e depois mostrei-lhe o meu Baglamas, recebi uns quantos Uau de elogio e pedi-lhe para o tocar um pouco, já era ao fim do dia por isso não se vê nada mas dá para ouvir.



Amanhã é dia de limpezas cá em casa, a Ageliki vem cá controlar que toda a gente trabalha  e eu acho bem!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

dia 23 -28 de Outubro - cravelhas, cordas e finito!!!

Hoje acabei o Baglamas!

O 28 de Outubro é feriado nacional na Grécia, chama-se o dia do NÃO. Mussolini queria ocupar alguns locais estratégicos em terras gregas e o General Ioannis, Metaxas disse Não. Mussolini atacou a Grécia e levaram uma tareia, vinham convencidos que iam ganhar por ter um exército 5 vezes maior, mas o Inverno desse chegou a ter temperatura de 20 graus negativos e os italianos não aguentaram a bronca.  Este dia, o Dia do Não, é celebrado por toda a Grécia com paradas organizadas nas cidades.
A Ageliki começou o dia por dizer que devia ser a única grega a trabalhar... Mas que para ajudar os voluntários lá tinha vindo. Pelos visto não houve grandes paradas por causa da chuva.

Em termos de trabaho foi um daqueles dias dedicado a pormenores.

Comecei a manhã com a colocação das cravelhas. Os furos que as ias receber estavam com um pouco de verniz, perguntei à Ageliki se podia dar-lhes um acabamento antes e ela disse que não.A verdade é que as cravelhas não estão a funcionar em pleno por isso, as adiante.



Depois de colocar as cravelhas estive a aplicar a peça que segura as cordas.

Os furos para os parafusos não deviam ter sido tão profundos mas a física diz-nos que a peça fica bem segura pelo alinhamento das forças, e eu vou confiar....

A peça que está pousada na mesa é a que vai cobrir as partes enroladas das cordas ao encaixar na que já está aplicada.






A seguir estive a aplicar as cordas com a ajuda do Muhammed. Um trabalho um pouco chato e complicado.... Enquanto um segura na argola que fixa a corda e a levanta para estar em tenção o outro usa uma ferramenta que é uma manivela para enrolar a corda mais rapidamente.

Depois estive a ajudá-lo a pôr as cordas dele.




Depois veio o trabalho de precisão!
As cordas precisam de ser guiadas ao longo do braço do instrumento, começando pela testa. Marca-se aquela pecinha de madeira, que já tinha estado a fazer noutro dia, como os sítios onde se vão fazer os rasgos para passar as cordas. Neste trabalho mais ou menos um milímetro faz muita diferença...

Ainda perguntei à Ageliki se podia fazer esta peça em osso como se vê em muitos instrumentos, até porque está lá um pedaço de osso na oficina, mas ela disse que não, tive pena...

É importante marcar tudo para se saber exactamente onde e até onde cortar.






 Aqui estão elas, de cima para baixo na fotografia (da mais aguda para a mais grave):
Ré Ré
Lá Lá
Ré Fá
Guiadas que estão as cordas na entrada do braço, é altura de ajustar o cavalete. Este deu mais trabalho...

Com esta peça afinamos a atura das cordas e a a orientação delas à saída do braço, para manter a distância entre elas. 



 Esta foi a pela que menos satisfeito me deixou em todo o instrumento porque ficou com uma grande assimetria, embora seja meramente estético.

 Ambas as pecinhas de madeira aplicadas hoje não foram envernizadas mas sim tratadas com óleo de limão. Não conhecia este óleo mas dá um acabamento muito bom à madeira e também dá para tratar todo o resto do instrumento, desengordura e dá um aspecto bonito ao verniz.







Um pormenor das cravelhas.
E aqui está o meu Baglamas!
Não me canso de salientar o quão grato estou por ter tido esta oportunidade, por todas as experiências que me proporcionou e por tudo o que aprendi, e estou ansioso por aplicar nos didgeridoos!

Também acho importante repetir o quão importantes estes programas são para todos aqueles que os podem fazer, são excelentes laboratórios de cidadania conforme se pode constatar pela leitura deste blogue. Conhecer outras culturas, países e pessoas é sempre bom, ensina-nos mais sobre nós próprios. Chego a pensar que devia ser obrigatório passar por um experiência deste género à saída do 12º ano. E o que digo não é assim tão fora do senso comum porque falta gente nestes projectos!

Entretanto já estive a tentar afinar o instrumento mas não está fácil porque os materiais precisam de se adaptar à tensão das cordas. Também tem a ver com uma série de pequenos erros acumulados, mas eu hei-de fazer outro cordofone em breve...

Ontem, depois de ver um video sobre o trainning do Odin Teatre em que falavam sobre correr fiquei com vontade de voltar a correr e assim fiz de tarde. Saí de casa todo inspirado em ir até ao teatro e voltar mas ao chegar lá tive a sensação que os meus pulmões estavam a virar do avesso como se faz com as camisolas para pôr na máquina de lavar roupa e, para baixo, vim a andar, tendo ainda roubado duas tangerinas das árvores do museu. Estou um pouco em baixo de forma, tenho de aproveitar os próximos dias para dar mais umas corridas..

Despeço-me com a imagem mais antiga que se conhece destes instrumentos, que referi no post de ontem.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

SCORDALHÁ - bacalhau, puré e grelos

Quando ouvi o nome desta receita soube logo que ia gostar...


E agora já posso dizer que tenho provado comida grega. Mas também repito que somos muito parecidos com esta malta!

Ok, refeição típica grega: bacalhau frito, puré e uns grelos feitos de Radíquia. Radíquia é igual a umas ervas daninhas que me davam imenso trabalho a tirar quando tinha uma horta!!! A Ageliki disse-nos que aqui ninguém compra nem planta isto, vai-se buscar ao monte. As refeições aqui têm um potencial económico brutal...

Não deu para anotar grande coisa enquanto estávamos a preparar isto porque tive medo que a torre de pratos desabasse e fui pedir a um dos turcos que tratassem da louça deles e depois disso estive a tratar da louça da tarte de laranja!

Alguns aspectos que fixei:
- os grelos cozem-se sem tampa para não ficarem escuros
- as batatas cozeram com casca que se tirou e foram raspadas, o que deu um puré com uma textura interessante e um sabor potentíssimo por causa da quantidade de alho que levou
- depois de prontos, tiram-se os grelos da panela, cortam-se aos bocadinhos e gasta-se um limão inteiro, muito azeite e sal para temperar
- propus adição de noz moscada no puré mas torceram-me o nariz

Os gregos esbanjam limão - na sopa, na carne, no peixe, em tudo - e azeite, embora agora estejam a mudar para o óleo, lá está, parecidos connosco até nas escolhas inteligentes....

Os meus amigos turcos não comeram o bacalhau, os que se atreveram a provar os grelos fizeram uma cara que metia dó (aquilo realmente é amargo, mas eu gosto, ehehe) e comeram o puré com... KETCHUP! Tudo acompanhado com Fanta e Coca Cola. - Rodrigo you want? - No, thank you, I would like to have wine with this meal, I don't have wine, I take water, but thank you!

Tarte de Laranja

Um doce de Páscoa, se não me engano...

Ingredientes:
- 4 ovos
- 4 laranjas
- massa muito fininha que não sei o nome em português
- fermento
- 1 iogurte
- óleo

Unta-se a forma com óleo.
Fazem-se umas rosas com a massa à mão e colocam-se todas no fundo da forma, deixa-se de parte.

Mistura-se o iogurte com o fermento e repousa também.

Raspa-se a casca de duas laranjas, mistura-se com meia chávena de açúcar e os ovos, um a um, bate-se muito bem. Acrescenta-se uma chávena de óleo e bate-se outra vez muito bem.
Acrescenta-se o iogurte mas misturando à mão, sem bater.

Aquece-se o forno a 175º

Põe-se aquela mistura em cima da massa e deixa-se repousar 10 minutos antes de ir ao forno.

Entretanto faz-se uma calda:
Numa panela põe-se meia chávena de água, 2,5 chávenas de açucar, raspa de 2 laranjas e 1 copo de sumo de laranja, deixa-se cozinhar 5 minuto.

A calda só pode ser posta na tarte se ambas estivere quentes ou se ambas estiverem frias.

É muito bom!

dia 22 - 27 de Outubro - 5a e última demão de verniz

Hoje de manhã lixei mais uma vez e voltei a envernizar. Entretanto o resto da malta também avançou nos seus instrumentos, um deles tinha uma rachadela de quando estava a ser trabalhado e a Ageliki disfarçou-a com o pirogravador.
Ao fim da manhã tivemos a primeira aula teórica sobre Baglamas.

Da família das Tabura (tenho de confirmar esta palavra), foi encontrada uma estátua de uma mulher a tocar estes instrumentos de 400a.C. Na altura o instrumento chamava-se Panduriz (transcrição fonética da palavra) e era tocado por mulheres, entretanto o nome sofreu várias mutações.

O nome Baglamas e a forma que usa hoje em dia veio com os gregos que estavam na Turquia na década de 1920. Nesta altura surge a Rabética ou Rabético, um estilo de música com Bouzouki e Baglamas. Este estilo era utilizado por pobres e criminosos e as canções falavam sobre álcool, drogas, crimes e às vezes amor.
Por ser pequeno era fácil de levar e muito utilizado em prisões. O Rabético foi proíbido até antes da 2ªa Grande Guerra.

Existem 3 tipos de Baglamas - pequeno, médio e grande - e 2 formas de construção - a partir de um bloco maciço e através de aduelas (Kalupi).
- A partir de um bloco maciço consegue-se um melhor som e podem usar-se madeiras duras como Nogueira, Maple ou Bordo, Amoreira mas também Tília.
- Na construção a partir de aduelas tem de se usar madeiras macias por causa da elasticidade e moldabilidade da madeira, a mais usada é a Tília. Deixa-se a madeira em água 2 a 3 dias e, com o calor, dá-se forma a cada peça que se aplica num molde.

No nosso caso estamos a utilizar a construção a partir de um bloco de madeira maciço por ser mais rápido e fácil de trabalhar. O bloco onde esculpimos o instrumento é feito colando várias madeiras que são reaproveitadas. As linhas que se vêm na foto servem de guia ao Sr Kosta quando dá uma forma tosca a estes blocos.

Madeiras habitualmente utilizadas:
- Braço: Tília ou madeiras duras (preferencialmente)
- Tampo: Abeto ou madeiras brancas (quanto mais próximas estiverem os veios da madeira melhor)
- Tastiera: Ébano (habitualmente não se enverniza, aplica-se óleo)
- Cavalete exterior: Ébano ou Tília
- Cavelete interior: Tília ou a mesma madeira do tampo
- Trastos: aço ou alumínio (estes também existem com várias alturas que variam consoante o tamanho do Baglamas)
- Ponte (pecinha pequena que faz a passagem das cordas do braço à testa): Ébano ou Tília

A madeira tem de estar sempre bem seca e os construtores preferem não comprar madeira de estufa mas encontrar a madeira e guarda-la durante 2  a 3 anos para secar, assim ela mantém alguma humidade que é importante para trabalhar, especialmente na construção por aduelas.

Estas informações foram-nos dadas pela Ageliki, a nossa mentora.






Ao almoço tivemos Cooking Lesson com bacalhau, puré e legumes e uma tarte de laranja muito boa.

A seguir ao almoço aula de grego mas como eu era o único aluno, outra vez, pedi à professora para me mostrar uns estilos musicais das várias regiões gregas.

E estive a ensaiar e a trabalhar nos didgeridoos de papel.

A minha estadia por aqui vai-se aproximando do fim.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

dia 21 - 26 de Outubro - 4a demão de verniz

Hoje o post é curtinho e sem imagens!

A Ageliki chegou por volta do meio dia porque tinha estado doente durante a noite.

Lixei a demão de ontem, desta vez com lixa de 1000, e dei mais uma que será a última.

O verniz não está a ficar do meu agrado por dois motivos: podia ter lixado melhor antes de envernizar e agora enquanto uns estão a dar verniz outros estão a lixar, a isto chama-se um ambiente contaminado, quando se enverniza e pinta tem de se ter alguns cuidados evidentes, mas estamos numa fase um pouco a despachar....

Depois de envernizar vim almoçar e estive a trabalhar nos didgeridoos de papel.

Por aqui aproximam-se as eleições e uma das formas de campanha é ter pessoas carregadas de flyers que passam à porta das casa e simplesmente largam o flyer! Está certo...

Ontem dois dos camaradas apanharam uma borracheira com cerveja barata e, como tal, estive a aturar algumas criancices. OK.

Em troca de emails o presidente da Orfeas, a associação de acolhimento, disse-me que estava muito triste com o facto de haver gente que ficava a dormir em vez de ir trabalhar porque a Ageliki fazia 100km para vir para aqui e tinha uma filha. Eu concordei e disse que gostava de lhe dar algumas opiniões sobre o Big Brother que por aqui acontece, a ver vamos.

Continuo com a divulgação do workshop e concerto tanto quanto posso. Este povo é parecido connosco.

Este post parece aqueles diários de bordo de navios perdidos semanas: dia 34, continuamos perdidos, já se começa a falar em escolher alguém para ceder o braço esquerdo para nos alimentarmos, a água escasseia e os homens começam a criar conflitos.

Ehehehehe

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

dia 20 - 25 de Outubro - 3a demão de verniz

De manhã, quando vemos dois gatos que se costumam pegar encostados um ao outro temos a confirmação que o frio que sentimos não é exagerado. Os dias vão ficando cada vez mais frios e eu não vim propriamente preparado.
Hoje estive a lixar o Baglamas mais uma vez e dei-lhe nova camada de verniz.

Estivemos a planear os próximos dias, estamos em segunda-feira dia 25, na quinta (dia 28) é feriado nacional, mas os meus colegas vão trabalhar na mesma (eu posso tirar o feriado se quiser), na sexta e segunda é férias. Os turcos vão embora dia 3. Eu fico até 6. Ainda não há inscrições para o workshop e o concerto em Kiato também está meio em águas de bacalhau. A Ageliki diz que como tenho dias a mais posso fazer um suporte para o Baglamas, e eu gostei da ideia até porque já tinha pensado nisso...

Entretanto um dos turcos voltou a passar a manhã a dormir e a Ageliki a trabalhar no instrumento dele. Os outros dois mais preguiçosos tiveram um empurrão valente no processo de trabalho pela Ageliki que quer que eles os acabem nos próximos dias. Aquele que falta na contagem dos 4 (não ponho nomes porque não os sei escrever e não quero nomear ninguém) é quem tem estado comigo quando estamos só dois, hoje deu a primeira demão de verniz. Parece-me que está tudo um pouco atrasado e eu pergunto-me porquê.
Entretanto dei-me conta que o livro que há cá com a história e imagens do Baglamas, um que vi logo no primeiro dia de trabalho, é, precisamente, do musicólogo que cedeu o espólio ao Museu de Instrumentos Populares da Grécia em que estive ontem! Foi uma agradável surpresa... Passei uma boa parte da manhã a fazer uma espionagem ao estilo de James Bond: a fotografar fotografias... Deixo aqui uma selecção...

Enquanto estava a lixar encontrei uma lixa em que reconheci o logótipo mas não associei logo que era portuguesa. Não procuro portugueses nos sítios para onde vou mas estou atento e até agora ainda só tinha visto ontem uma família em Atenas.

Ao fim da manhã fomos às compras e depois do almoço estive a trabalhar nos dois didgeridoos de rolos de papel higiénico que estão a ficar brutais!

dia 19 - 24 de Outubro - Atenas !!! parte 2

De manhã acordei, tirei uma foto com o Joseph e ele foi levar-me a Atenas.

Mal entrei na estação de metro vi um didgeridoo gigante pendurado no tecto! E dizem eles que não há didgeridoo por aqui....
Lá fui para Monastiraki outra vez com o objectivo de ir comprar a flauta e depois ver o Museu de Instrumentos Populares Gregos.


O museu era brutal e GRATUITO! Já me sentia outra vez em paz com a Grécia, ihihih. A exposição estava dividida em membrafones, cordofones, idiofones e "soprofones", desculpem não resisti a esta piadinha....
Que coleção brutal de instrumentos, fotografias e áudios que eles tinham. Depois vim a saber que aquilo tinha tido sido recolhido ao longo de 50 anos pelo senhor Fivos Anoyanakis, um musicologista grego nascido em 1915. Fiquei-lhe tão grato por ver aquela coleção que tive de lhe prestar aqui homenagem! Nestas alturas imagino a mulher do senhor: Oh Fivos para que compraste tu mais uma viola homem? Tu nem sequer sabes tocar!!!
Lá estavam os Baglamas feitos com carapaça de tartaruga, com cabaças, as primeiras guitarras na Grécia depois da segunda grande guerra (ou terá sido depois da primeira? tenho de ir confirmar), as liras, os kemenches, os bandolins, os tambores, os sinos das cabras, uma quantidade enorme de flautas de osso, de madeira e de metal, gaitas de foles... estava a chegar às zournas e às gaitas de foles quando me vieram dizer que iam fechar!! Nem me tinha dado conta pela passagem do tempo, tirei fotografias daquilo que não ia poder ver em pormenor e saí.
Será que nos 50 anos que o senhor Fivos andou a coleccionar instrumentos, tirar fotografias e gravar recolhas algumas vez imaginou que fosse inspirar um puto de Portugal em 2010 para construir melhor didgeridoos? De qualquer forma é importante agradecer a quem faz estas recolhas porque elas são sempre úteis no futuro. O museu fica numa casa lindíssima e está tudo em grego e inglês. No flyer fiquei a saber que aquilo é só parte da coleção do senhor e que ele doou também uma biblioteca sobre o assunto ao museu.
Entretanto ainda fui até à loja do museu babar-me com os instrumentos para venda, os livros e os CDs e ainda mostrei o didgeridoo a quem lá estava.

À saída, as mascotes do museu estavam entretidíssimas enquanto uma família observava...












Saí do museu e perdi-me de novo nas ruas pequeninas dali da zona. Sempre com a Acrópole em vista mais acima e os restaurantezinhos com turistas a pesticar (e eu a espreitar e cheirar-lhes os pratos, ehehe). À porta de mais um espaço arqueológico olhei melhor para o meu bilhete e percebi que dava para ver mais zonas, esta era uma delas.







ÁGORA

Mais uma vez passeava no meio de uma quantidade impressionante de pedras trabalhadas com uma mestria excepcional, muitas destas pedras estão espalhadas pelo chão à espera que alguém saiba como fazer o puzzle de novo. Imensos pássaros, gatos e cães vivem pelo meio da história em calhaus, as árvores e vegetação crescem no meio das pedras como se fossem penedos no meio do monte e de repente dou por mim a pensar que realmente existiu ali uma civilização mas que já foi, ficaram conceitos, muitos cacos mas agora aquilo volta à Natureza. Está no meio duma grande mas quem lá vive são os animas, o mármore dissolve-se com a chuva. Há um dos livros do Asterix que tem uma imagem que me fez lembrar estes monumentos.

Mas a verdade é que é espantoso andar pelo meio de tanta pedra finamente esculpida. Lá turistei por ali o mais que pude para aproveitar, as típicas fotografias para mostrar a quem não veio, nada de muito original. Depois senti uma vontade enorme de tocar didgeridoo naquele espaço e assim fiz.





Saí da Ágora e finalmente dei com o mercado de Monastirakis
A primeira sensação foi de profunda desilusão: africanos a vender carteiras, DVDs, óculos escuros e perfumes tudo igual e de contrafacção não era coisa para me fazer viajar quilómetros para ver... Mas resolvi acreditar que valia a pena andar mais um bocado e aí tive a minha recompensa. Velhotes com panos cheios de tralha ou mesas cheias de selos, notas e moedas já são mais o que eu gosto de ver. Andei por ali a namorar aquela tralha toda, estive quase para comprar um kemenche que custava 15 euros mas dois minutos depois já estava a 10 e ainda pensei perguntar se ele mo vendia por 5 mas resolvi não gastar mais dinheiro. A confusão era tremenda e deliciosa, dum lado esplanadas com gente muito fina e bom aspecto a beber os cafés frapés, muitos miudos a fazer de conta que tocavam pequenos Baglamas ou Concertinas a pedir dinheiro, muita gente ver se conseguia gamar, empregados de café com os tabuleiros no ar a cruzar uma multidão apertada para chegar aos cliente, alguns do outro lado da rua, motas a passar, pessoas a vender no chão, outras em mesas, carros a servir de expositor, carros avariados no meio duma rua atafulhada de gente com vendedores dos dois lados, pessoas a andar por cima dos tapetes para venda que estavam no chão, bonecas de porcelana partidas, móveis, ferramentas, fatos de treino, cuecas, tudo o que se possa imaginar num caos espectacular, muito lixo por todo lado, cães a ladrar às motas - valeu bem a pena vir!
Ainda assim não vi nada verdadeiramente original ou novo. 

Estava um bocado cansado por isso achei que já tinha tido uma boa dose de Atenas e estava na hora de voltar para casa. Ainda fui a Syntagma, a praça cujo nome quer dizer Constituição, onde está o Parlamento. Saí do metro para ir ver, tirei uma fotografia ao edifício mas não me deu vontade de andar por ali, meti-me no metro, comboio, taxi e cheguei a casa.

Que experiência!!!!

Tenho pena de não ir a Meteora mas tinha de visitar Atenas, não há dinheiro para fazer tudo, as coisas aqui são caríssimas, são escolhas que se fazem. E já muito contente estou com tudo o que tenho tido.