quinta-feira, 28 de outubro de 2010

dia 23 -28 de Outubro - cravelhas, cordas e finito!!!

Hoje acabei o Baglamas!

O 28 de Outubro é feriado nacional na Grécia, chama-se o dia do NÃO. Mussolini queria ocupar alguns locais estratégicos em terras gregas e o General Ioannis, Metaxas disse Não. Mussolini atacou a Grécia e levaram uma tareia, vinham convencidos que iam ganhar por ter um exército 5 vezes maior, mas o Inverno desse chegou a ter temperatura de 20 graus negativos e os italianos não aguentaram a bronca.  Este dia, o Dia do Não, é celebrado por toda a Grécia com paradas organizadas nas cidades.
A Ageliki começou o dia por dizer que devia ser a única grega a trabalhar... Mas que para ajudar os voluntários lá tinha vindo. Pelos visto não houve grandes paradas por causa da chuva.

Em termos de trabaho foi um daqueles dias dedicado a pormenores.

Comecei a manhã com a colocação das cravelhas. Os furos que as ias receber estavam com um pouco de verniz, perguntei à Ageliki se podia dar-lhes um acabamento antes e ela disse que não.A verdade é que as cravelhas não estão a funcionar em pleno por isso, as adiante.



Depois de colocar as cravelhas estive a aplicar a peça que segura as cordas.

Os furos para os parafusos não deviam ter sido tão profundos mas a física diz-nos que a peça fica bem segura pelo alinhamento das forças, e eu vou confiar....

A peça que está pousada na mesa é a que vai cobrir as partes enroladas das cordas ao encaixar na que já está aplicada.






A seguir estive a aplicar as cordas com a ajuda do Muhammed. Um trabalho um pouco chato e complicado.... Enquanto um segura na argola que fixa a corda e a levanta para estar em tenção o outro usa uma ferramenta que é uma manivela para enrolar a corda mais rapidamente.

Depois estive a ajudá-lo a pôr as cordas dele.




Depois veio o trabalho de precisão!
As cordas precisam de ser guiadas ao longo do braço do instrumento, começando pela testa. Marca-se aquela pecinha de madeira, que já tinha estado a fazer noutro dia, como os sítios onde se vão fazer os rasgos para passar as cordas. Neste trabalho mais ou menos um milímetro faz muita diferença...

Ainda perguntei à Ageliki se podia fazer esta peça em osso como se vê em muitos instrumentos, até porque está lá um pedaço de osso na oficina, mas ela disse que não, tive pena...

É importante marcar tudo para se saber exactamente onde e até onde cortar.






 Aqui estão elas, de cima para baixo na fotografia (da mais aguda para a mais grave):
Ré Ré
Lá Lá
Ré Fá
Guiadas que estão as cordas na entrada do braço, é altura de ajustar o cavalete. Este deu mais trabalho...

Com esta peça afinamos a atura das cordas e a a orientação delas à saída do braço, para manter a distância entre elas. 



 Esta foi a pela que menos satisfeito me deixou em todo o instrumento porque ficou com uma grande assimetria, embora seja meramente estético.

 Ambas as pecinhas de madeira aplicadas hoje não foram envernizadas mas sim tratadas com óleo de limão. Não conhecia este óleo mas dá um acabamento muito bom à madeira e também dá para tratar todo o resto do instrumento, desengordura e dá um aspecto bonito ao verniz.







Um pormenor das cravelhas.
E aqui está o meu Baglamas!
Não me canso de salientar o quão grato estou por ter tido esta oportunidade, por todas as experiências que me proporcionou e por tudo o que aprendi, e estou ansioso por aplicar nos didgeridoos!

Também acho importante repetir o quão importantes estes programas são para todos aqueles que os podem fazer, são excelentes laboratórios de cidadania conforme se pode constatar pela leitura deste blogue. Conhecer outras culturas, países e pessoas é sempre bom, ensina-nos mais sobre nós próprios. Chego a pensar que devia ser obrigatório passar por um experiência deste género à saída do 12º ano. E o que digo não é assim tão fora do senso comum porque falta gente nestes projectos!

Entretanto já estive a tentar afinar o instrumento mas não está fácil porque os materiais precisam de se adaptar à tensão das cordas. Também tem a ver com uma série de pequenos erros acumulados, mas eu hei-de fazer outro cordofone em breve...

Ontem, depois de ver um video sobre o trainning do Odin Teatre em que falavam sobre correr fiquei com vontade de voltar a correr e assim fiz de tarde. Saí de casa todo inspirado em ir até ao teatro e voltar mas ao chegar lá tive a sensação que os meus pulmões estavam a virar do avesso como se faz com as camisolas para pôr na máquina de lavar roupa e, para baixo, vim a andar, tendo ainda roubado duas tangerinas das árvores do museu. Estou um pouco em baixo de forma, tenho de aproveitar os próximos dias para dar mais umas corridas..

Despeço-me com a imagem mais antiga que se conhece destes instrumentos, que referi no post de ontem.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

SCORDALHÁ - bacalhau, puré e grelos

Quando ouvi o nome desta receita soube logo que ia gostar...


E agora já posso dizer que tenho provado comida grega. Mas também repito que somos muito parecidos com esta malta!

Ok, refeição típica grega: bacalhau frito, puré e uns grelos feitos de Radíquia. Radíquia é igual a umas ervas daninhas que me davam imenso trabalho a tirar quando tinha uma horta!!! A Ageliki disse-nos que aqui ninguém compra nem planta isto, vai-se buscar ao monte. As refeições aqui têm um potencial económico brutal...

Não deu para anotar grande coisa enquanto estávamos a preparar isto porque tive medo que a torre de pratos desabasse e fui pedir a um dos turcos que tratassem da louça deles e depois disso estive a tratar da louça da tarte de laranja!

Alguns aspectos que fixei:
- os grelos cozem-se sem tampa para não ficarem escuros
- as batatas cozeram com casca que se tirou e foram raspadas, o que deu um puré com uma textura interessante e um sabor potentíssimo por causa da quantidade de alho que levou
- depois de prontos, tiram-se os grelos da panela, cortam-se aos bocadinhos e gasta-se um limão inteiro, muito azeite e sal para temperar
- propus adição de noz moscada no puré mas torceram-me o nariz

Os gregos esbanjam limão - na sopa, na carne, no peixe, em tudo - e azeite, embora agora estejam a mudar para o óleo, lá está, parecidos connosco até nas escolhas inteligentes....

Os meus amigos turcos não comeram o bacalhau, os que se atreveram a provar os grelos fizeram uma cara que metia dó (aquilo realmente é amargo, mas eu gosto, ehehe) e comeram o puré com... KETCHUP! Tudo acompanhado com Fanta e Coca Cola. - Rodrigo you want? - No, thank you, I would like to have wine with this meal, I don't have wine, I take water, but thank you!

Tarte de Laranja

Um doce de Páscoa, se não me engano...

Ingredientes:
- 4 ovos
- 4 laranjas
- massa muito fininha que não sei o nome em português
- fermento
- 1 iogurte
- óleo

Unta-se a forma com óleo.
Fazem-se umas rosas com a massa à mão e colocam-se todas no fundo da forma, deixa-se de parte.

Mistura-se o iogurte com o fermento e repousa também.

Raspa-se a casca de duas laranjas, mistura-se com meia chávena de açúcar e os ovos, um a um, bate-se muito bem. Acrescenta-se uma chávena de óleo e bate-se outra vez muito bem.
Acrescenta-se o iogurte mas misturando à mão, sem bater.

Aquece-se o forno a 175º

Põe-se aquela mistura em cima da massa e deixa-se repousar 10 minutos antes de ir ao forno.

Entretanto faz-se uma calda:
Numa panela põe-se meia chávena de água, 2,5 chávenas de açucar, raspa de 2 laranjas e 1 copo de sumo de laranja, deixa-se cozinhar 5 minuto.

A calda só pode ser posta na tarte se ambas estivere quentes ou se ambas estiverem frias.

É muito bom!

dia 22 - 27 de Outubro - 5a e última demão de verniz

Hoje de manhã lixei mais uma vez e voltei a envernizar. Entretanto o resto da malta também avançou nos seus instrumentos, um deles tinha uma rachadela de quando estava a ser trabalhado e a Ageliki disfarçou-a com o pirogravador.
Ao fim da manhã tivemos a primeira aula teórica sobre Baglamas.

Da família das Tabura (tenho de confirmar esta palavra), foi encontrada uma estátua de uma mulher a tocar estes instrumentos de 400a.C. Na altura o instrumento chamava-se Panduriz (transcrição fonética da palavra) e era tocado por mulheres, entretanto o nome sofreu várias mutações.

O nome Baglamas e a forma que usa hoje em dia veio com os gregos que estavam na Turquia na década de 1920. Nesta altura surge a Rabética ou Rabético, um estilo de música com Bouzouki e Baglamas. Este estilo era utilizado por pobres e criminosos e as canções falavam sobre álcool, drogas, crimes e às vezes amor.
Por ser pequeno era fácil de levar e muito utilizado em prisões. O Rabético foi proíbido até antes da 2ªa Grande Guerra.

Existem 3 tipos de Baglamas - pequeno, médio e grande - e 2 formas de construção - a partir de um bloco maciço e através de aduelas (Kalupi).
- A partir de um bloco maciço consegue-se um melhor som e podem usar-se madeiras duras como Nogueira, Maple ou Bordo, Amoreira mas também Tília.
- Na construção a partir de aduelas tem de se usar madeiras macias por causa da elasticidade e moldabilidade da madeira, a mais usada é a Tília. Deixa-se a madeira em água 2 a 3 dias e, com o calor, dá-se forma a cada peça que se aplica num molde.

No nosso caso estamos a utilizar a construção a partir de um bloco de madeira maciço por ser mais rápido e fácil de trabalhar. O bloco onde esculpimos o instrumento é feito colando várias madeiras que são reaproveitadas. As linhas que se vêm na foto servem de guia ao Sr Kosta quando dá uma forma tosca a estes blocos.

Madeiras habitualmente utilizadas:
- Braço: Tília ou madeiras duras (preferencialmente)
- Tampo: Abeto ou madeiras brancas (quanto mais próximas estiverem os veios da madeira melhor)
- Tastiera: Ébano (habitualmente não se enverniza, aplica-se óleo)
- Cavalete exterior: Ébano ou Tília
- Cavelete interior: Tília ou a mesma madeira do tampo
- Trastos: aço ou alumínio (estes também existem com várias alturas que variam consoante o tamanho do Baglamas)
- Ponte (pecinha pequena que faz a passagem das cordas do braço à testa): Ébano ou Tília

A madeira tem de estar sempre bem seca e os construtores preferem não comprar madeira de estufa mas encontrar a madeira e guarda-la durante 2  a 3 anos para secar, assim ela mantém alguma humidade que é importante para trabalhar, especialmente na construção por aduelas.

Estas informações foram-nos dadas pela Ageliki, a nossa mentora.






Ao almoço tivemos Cooking Lesson com bacalhau, puré e legumes e uma tarte de laranja muito boa.

A seguir ao almoço aula de grego mas como eu era o único aluno, outra vez, pedi à professora para me mostrar uns estilos musicais das várias regiões gregas.

E estive a ensaiar e a trabalhar nos didgeridoos de papel.

A minha estadia por aqui vai-se aproximando do fim.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

dia 21 - 26 de Outubro - 4a demão de verniz

Hoje o post é curtinho e sem imagens!

A Ageliki chegou por volta do meio dia porque tinha estado doente durante a noite.

Lixei a demão de ontem, desta vez com lixa de 1000, e dei mais uma que será a última.

O verniz não está a ficar do meu agrado por dois motivos: podia ter lixado melhor antes de envernizar e agora enquanto uns estão a dar verniz outros estão a lixar, a isto chama-se um ambiente contaminado, quando se enverniza e pinta tem de se ter alguns cuidados evidentes, mas estamos numa fase um pouco a despachar....

Depois de envernizar vim almoçar e estive a trabalhar nos didgeridoos de papel.

Por aqui aproximam-se as eleições e uma das formas de campanha é ter pessoas carregadas de flyers que passam à porta das casa e simplesmente largam o flyer! Está certo...

Ontem dois dos camaradas apanharam uma borracheira com cerveja barata e, como tal, estive a aturar algumas criancices. OK.

Em troca de emails o presidente da Orfeas, a associação de acolhimento, disse-me que estava muito triste com o facto de haver gente que ficava a dormir em vez de ir trabalhar porque a Ageliki fazia 100km para vir para aqui e tinha uma filha. Eu concordei e disse que gostava de lhe dar algumas opiniões sobre o Big Brother que por aqui acontece, a ver vamos.

Continuo com a divulgação do workshop e concerto tanto quanto posso. Este povo é parecido connosco.

Este post parece aqueles diários de bordo de navios perdidos semanas: dia 34, continuamos perdidos, já se começa a falar em escolher alguém para ceder o braço esquerdo para nos alimentarmos, a água escasseia e os homens começam a criar conflitos.

Ehehehehe

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

dia 20 - 25 de Outubro - 3a demão de verniz

De manhã, quando vemos dois gatos que se costumam pegar encostados um ao outro temos a confirmação que o frio que sentimos não é exagerado. Os dias vão ficando cada vez mais frios e eu não vim propriamente preparado.
Hoje estive a lixar o Baglamas mais uma vez e dei-lhe nova camada de verniz.

Estivemos a planear os próximos dias, estamos em segunda-feira dia 25, na quinta (dia 28) é feriado nacional, mas os meus colegas vão trabalhar na mesma (eu posso tirar o feriado se quiser), na sexta e segunda é férias. Os turcos vão embora dia 3. Eu fico até 6. Ainda não há inscrições para o workshop e o concerto em Kiato também está meio em águas de bacalhau. A Ageliki diz que como tenho dias a mais posso fazer um suporte para o Baglamas, e eu gostei da ideia até porque já tinha pensado nisso...

Entretanto um dos turcos voltou a passar a manhã a dormir e a Ageliki a trabalhar no instrumento dele. Os outros dois mais preguiçosos tiveram um empurrão valente no processo de trabalho pela Ageliki que quer que eles os acabem nos próximos dias. Aquele que falta na contagem dos 4 (não ponho nomes porque não os sei escrever e não quero nomear ninguém) é quem tem estado comigo quando estamos só dois, hoje deu a primeira demão de verniz. Parece-me que está tudo um pouco atrasado e eu pergunto-me porquê.
Entretanto dei-me conta que o livro que há cá com a história e imagens do Baglamas, um que vi logo no primeiro dia de trabalho, é, precisamente, do musicólogo que cedeu o espólio ao Museu de Instrumentos Populares da Grécia em que estive ontem! Foi uma agradável surpresa... Passei uma boa parte da manhã a fazer uma espionagem ao estilo de James Bond: a fotografar fotografias... Deixo aqui uma selecção...

Enquanto estava a lixar encontrei uma lixa em que reconheci o logótipo mas não associei logo que era portuguesa. Não procuro portugueses nos sítios para onde vou mas estou atento e até agora ainda só tinha visto ontem uma família em Atenas.

Ao fim da manhã fomos às compras e depois do almoço estive a trabalhar nos dois didgeridoos de rolos de papel higiénico que estão a ficar brutais!

dia 19 - 24 de Outubro - Atenas !!! parte 2

De manhã acordei, tirei uma foto com o Joseph e ele foi levar-me a Atenas.

Mal entrei na estação de metro vi um didgeridoo gigante pendurado no tecto! E dizem eles que não há didgeridoo por aqui....
Lá fui para Monastiraki outra vez com o objectivo de ir comprar a flauta e depois ver o Museu de Instrumentos Populares Gregos.


O museu era brutal e GRATUITO! Já me sentia outra vez em paz com a Grécia, ihihih. A exposição estava dividida em membrafones, cordofones, idiofones e "soprofones", desculpem não resisti a esta piadinha....
Que coleção brutal de instrumentos, fotografias e áudios que eles tinham. Depois vim a saber que aquilo tinha tido sido recolhido ao longo de 50 anos pelo senhor Fivos Anoyanakis, um musicologista grego nascido em 1915. Fiquei-lhe tão grato por ver aquela coleção que tive de lhe prestar aqui homenagem! Nestas alturas imagino a mulher do senhor: Oh Fivos para que compraste tu mais uma viola homem? Tu nem sequer sabes tocar!!!
Lá estavam os Baglamas feitos com carapaça de tartaruga, com cabaças, as primeiras guitarras na Grécia depois da segunda grande guerra (ou terá sido depois da primeira? tenho de ir confirmar), as liras, os kemenches, os bandolins, os tambores, os sinos das cabras, uma quantidade enorme de flautas de osso, de madeira e de metal, gaitas de foles... estava a chegar às zournas e às gaitas de foles quando me vieram dizer que iam fechar!! Nem me tinha dado conta pela passagem do tempo, tirei fotografias daquilo que não ia poder ver em pormenor e saí.
Será que nos 50 anos que o senhor Fivos andou a coleccionar instrumentos, tirar fotografias e gravar recolhas algumas vez imaginou que fosse inspirar um puto de Portugal em 2010 para construir melhor didgeridoos? De qualquer forma é importante agradecer a quem faz estas recolhas porque elas são sempre úteis no futuro. O museu fica numa casa lindíssima e está tudo em grego e inglês. No flyer fiquei a saber que aquilo é só parte da coleção do senhor e que ele doou também uma biblioteca sobre o assunto ao museu.
Entretanto ainda fui até à loja do museu babar-me com os instrumentos para venda, os livros e os CDs e ainda mostrei o didgeridoo a quem lá estava.

À saída, as mascotes do museu estavam entretidíssimas enquanto uma família observava...












Saí do museu e perdi-me de novo nas ruas pequeninas dali da zona. Sempre com a Acrópole em vista mais acima e os restaurantezinhos com turistas a pesticar (e eu a espreitar e cheirar-lhes os pratos, ehehe). À porta de mais um espaço arqueológico olhei melhor para o meu bilhete e percebi que dava para ver mais zonas, esta era uma delas.







ÁGORA

Mais uma vez passeava no meio de uma quantidade impressionante de pedras trabalhadas com uma mestria excepcional, muitas destas pedras estão espalhadas pelo chão à espera que alguém saiba como fazer o puzzle de novo. Imensos pássaros, gatos e cães vivem pelo meio da história em calhaus, as árvores e vegetação crescem no meio das pedras como se fossem penedos no meio do monte e de repente dou por mim a pensar que realmente existiu ali uma civilização mas que já foi, ficaram conceitos, muitos cacos mas agora aquilo volta à Natureza. Está no meio duma grande mas quem lá vive são os animas, o mármore dissolve-se com a chuva. Há um dos livros do Asterix que tem uma imagem que me fez lembrar estes monumentos.

Mas a verdade é que é espantoso andar pelo meio de tanta pedra finamente esculpida. Lá turistei por ali o mais que pude para aproveitar, as típicas fotografias para mostrar a quem não veio, nada de muito original. Depois senti uma vontade enorme de tocar didgeridoo naquele espaço e assim fiz.





Saí da Ágora e finalmente dei com o mercado de Monastirakis
A primeira sensação foi de profunda desilusão: africanos a vender carteiras, DVDs, óculos escuros e perfumes tudo igual e de contrafacção não era coisa para me fazer viajar quilómetros para ver... Mas resolvi acreditar que valia a pena andar mais um bocado e aí tive a minha recompensa. Velhotes com panos cheios de tralha ou mesas cheias de selos, notas e moedas já são mais o que eu gosto de ver. Andei por ali a namorar aquela tralha toda, estive quase para comprar um kemenche que custava 15 euros mas dois minutos depois já estava a 10 e ainda pensei perguntar se ele mo vendia por 5 mas resolvi não gastar mais dinheiro. A confusão era tremenda e deliciosa, dum lado esplanadas com gente muito fina e bom aspecto a beber os cafés frapés, muitos miudos a fazer de conta que tocavam pequenos Baglamas ou Concertinas a pedir dinheiro, muita gente ver se conseguia gamar, empregados de café com os tabuleiros no ar a cruzar uma multidão apertada para chegar aos cliente, alguns do outro lado da rua, motas a passar, pessoas a vender no chão, outras em mesas, carros a servir de expositor, carros avariados no meio duma rua atafulhada de gente com vendedores dos dois lados, pessoas a andar por cima dos tapetes para venda que estavam no chão, bonecas de porcelana partidas, móveis, ferramentas, fatos de treino, cuecas, tudo o que se possa imaginar num caos espectacular, muito lixo por todo lado, cães a ladrar às motas - valeu bem a pena vir!
Ainda assim não vi nada verdadeiramente original ou novo. 

Estava um bocado cansado por isso achei que já tinha tido uma boa dose de Atenas e estava na hora de voltar para casa. Ainda fui a Syntagma, a praça cujo nome quer dizer Constituição, onde está o Parlamento. Saí do metro para ir ver, tirei uma fotografia ao edifício mas não me deu vontade de andar por ali, meti-me no metro, comboio, taxi e cheguei a casa.

Que experiência!!!!

Tenho pena de não ir a Meteora mas tinha de visitar Atenas, não há dinheiro para fazer tudo, as coisas aqui são caríssimas, são escolhas que se fazem. E já muito contente estou com tudo o que tenho tido.

domingo, 24 de outubro de 2010

DIDGE IN ACROPOLIS

23 - 10 - 2010

dia 18 - 23 de Outubro - Atenas !!! parte 1

Este fim de semana fui visitar Atenas! Meteora começa a parecer-se com um sonho distante que não devo poder realizar por isso fui visitar a capital. Tinha de o fazer antes de ir embora! Que experiência que foi!

Se eu já achava o trânsito caótico aqui por Kiato e Xylokastro em Atenas passei-me!
Tinha a indicação de uma zona engraçada chamada Monastirakis que tinha uma éspecie de mercado de rua com coisas de todo o mundo. Grécia antiga na Acrópolis, mercado em Monastirakis e conhecer mais um músico de didgeridoo e a minha visita a Atenas já tinha programa.

Ao saír do Metro em Monastirakis estava numa rua só de casas de ferramentas. A tentação foi grande mas aguentei-me. Percebi que não estava onde era suposto mas em vez de perguntar comecei a vaguear pelas ruas até que dei com uma casa brutal!!! À porta tinham a maior quantidade de tralha indiferenciada que alguma vez vi, esqueçam lojas de usados, lojas de chineses, esqueçam tudo que viram até agora. Não sei descrever a casa, não havia expositores, o amontoado de tralha fazia de expositor! Tenho pelo menos 15 fotografias de lá por isso criei um slideshow para quem quiser ver, vale mesmo a pena, eu já achava que a viagem tinha sido ganha com aquela loja. Trabalhavam lá 4 ou 5 empregados brutos com as pessoas que faziam os preços consoante o produto e aspecto da pessoa e se o cliente queria mesmo o produto, percebi isso quando perguntei o preço de uma flauta e ele olhou para mim, hesitou e disparou 15 euros. A flauta ficou lá mas eu adorei aquele espaço, só me apetecia comprar porcarias, faz falta uma daquelas aos cenógrafos de Portugal!



Saí da loja e continuei a vaguear pelo caos e pelo cheiro intenso a poluíção.
Numa rua mais fina comprei um pão doce com sésamo por cima, bem bom. Rapidamente percebi que comer por Atenas ia ser um problema por causa dos preços...
Mais à frente ia um senhor a empurrar um realejo e a cantar. A cantar? Quando ouvi a voz pensei que era uma velhinha esganiçada. O realejo era uma miséria tocava uma nota a cada duas rotações da manivela, já estava todo destrambelhado e o velhote sofria a empurrar aquilo rua acima. Perguntei se podia tirar uma fotografia, ele disse que sim mas que pagasse, o típico por aqui. Tirei a foto, fui à carteira e tirei umas moedas que tinha, peço desculpa mas 2 euros em Atenas são ouro, guardei-os para mim. Pus as moedas na tacinha do realejo e o homem muito ofendido e chateado chamou-me para me devolver as moedas pretas e a reclamar comigo em algo que devia ser: isto é dinheiro que se dê?!?! Eu respondi-lhe em português que era dinheiro mas para não o ofender mais guardei o dinheiro!

Continuei a vaguear pelas ruas, vi uma placa que dizia Museu de Arte Popular ou algo assim e procurei o dito, andei por ali meio às voltas e quando dei com o museu estava fechado. Continuei a vaguear até que vi um Peugeot antigo com uma pintura estranha, tirei uma foto ao carro e um senhor começou a conversar comigo e aqui aconteceu-me uma história completamente louca!
Perguntou-me se gostava do carro, perguntei-lhe onde ficava a dita Monastirakis e ele põe-me o braço atrás das costas e encaminha-me para a rua de onde eu vinha, "eu vou explicar-lhe, é por ali até ao fundo e depois à direita, mas venha beber uma cerveja no meu café, é um café muito bom, vocês vai gostar". O totó do Rodrigo não conseguiu dizer que não, ah ok bebo um café. Entro e estão 3 mulheres numa mesa e mais ninguém no bar. Uma levanta-se e vai arranjar o café para este senhor tão simpático de Portugal. Entretanto fui à casa de banho e aqui comecei a perceber que algo estava mal. O aspecto daquela cave fez-me logo lembrar o filme Hostel, para quem já viu sabe o que senti. Tinha percebido que algo estava mal mas não sabia exactamente o quê. Sento-me ao balcão à espera do café e levanta-se um mulherão da mesa e vem sentar-se ao meu lado. Loira, olhos azuis, um corpo tremendo e começa a falar comigo num inglês muito bom e muito interessada em mim, de onde és,como te chamas, gostas de Atenas, não tens frio (eu estava de t-shirt), etc etc. Aqui eu percebi onde me tinha metido. Pensei esperar pelo café e depois dizer que não obrigado e seguir viagem. Estava nisto quando o café aterra no balcão e eu pergunto o preço: 5 euros!!!! What? Aqui passei-me e desculpem lá mas não continuo na brincadeira, paguei o café, dei 2 golos e vim-me embora! Eu meto-me em cada uma!

Meio revoltado com a cena resolvi continuar a andar para desnuviar. Estive noutra loja que vendia tralhas mas esta era mais fina, o que me chamou a atenção foram as marionetas de sombras. Vê-se muitas por aqui. Instrumentos também é uma fartura para se compra, haja dinheiro que por aqui vende-se tudo.

Vi umas ruínas e fui ver se podia visitar, queriam 2 euros e eu não achei que estas merecessem a pena, o dinheiro voa nesta cidade. Continuei a divagar. Se mais alguém me vem tentar vender alguma coisa eu espanco-o! Pensava eu...
ACROPOLIS. Dei com a entrada. 12 euros. É caro mas tanto vi isto nos meus livros e sempre tive curiosidade, eu sei lá quando é que cá volto, ok eu vou visitar.

Lá andei a ver aquilo tudo e realmente é bonito e majestoso mas ainda há imenso trabalho a fazer para pôr aqueles calhaus todos no sítio... Informação não faltava mas se me punha a ler tudo não via nada, decidi andar por ali a imaginar como se vivia tudo aquilo naquela época. O cheiro que há no ar, de uma árvore que não consegui ideintificar, é uma maravilha, a vista é tremenda, realmente inspira a filosofar!!
Lá fiz as fotografias típicas, até para partilhar com quem não pode cá vir, esta experiência que estou a viver é realmente um previlégio.
Saí da Acrópole e continuei a vaguear pelas ruas.

Tinha combinado encontrar-me com um músico de didgeridoo que conheci em procuras na net que me tinha dito que podia ficar em casa dele, mas por esta altura já estava a considerar ir-me embora. Já só via gente a tentar vender-me coisas na rua, apetecia-me sentar num café e comer algo típico mas não tinha dinheiro para isso.
Estava nisto quando vi uma loja de souvenirs e instrumentos musicais. Entrei para ver os Bouzoukis e os Baglamas (alguns mais mal acabadinhos que o meu!!!). Lá veio o dono da loja todo simpático tentar vender-me alguma coisa. 
- Eu agradeci imenso a ajuda dele e disse que não tinha dinheiro mas que gostava de ver os instrumentos por curiosidade.
- Por ser assim tão honesto, este Baglamas que custa 110 euros fica-lhe por 70 euros.
- Muito obrigado ainda assim mas nem sequer toco, é só por curiosidade!
- Se se interessa por instrumentos há um museu de etno-musicologia duas ruas abaixo.
PLIM! Eu tinha acabado o sinal que me dizia o que fazer na hesitação fico ou vou!
Como o senhor me tinha dado algo muito bom quis mostrar-lhe o didgeridoo, que ele conhecia porque tinha estado na Austrália e a empregada que era da Roménia falou-me de um parecido tradicional que eles também usam!

Saí da loja com um sorriso na cara e segui viagem.
Fui ver os horários do museu para confirmar se estaria aberto no dia seguinte.

E continuei a vaguear.
Nova experiência! Remember Athens é o nome da loja que me chamou logo a atenção porque, em vez de ter capacetes de espartanos, vasos e sandálias tinha manequins todos escavacados, roupa muito maluca e tudo o que se pode imaginar para se chamar à atenção. Ainda tinha fotografias de vários artistas conhecidos que tinham estado na loja. Tinha de entrar.
A loja tinha imensa pinta, uma confusão bestial de estilos mas ao menos dava para arejar do resto que havia nas ruas: souvenirs, souvenirs e souvenirs. O empregado esteve a mostrar-me o que tinham e a fazer imensas perguntas e dar imensos esclarecimentos sobre a loja que já existe há 30 anos, têm uma mesa so para fotografias (MUITAS!) de pessoas que lá estiveram: Nick Cave, Scorpions, Eva Herzigova, etc etc etc. Também mostrei o didgeridoo nesta. O dono da loja quis que eu tirasse lá uma fotografia com o didgeridoo e lá entrei eu para o catálogo de visitantes famosos ou artistas da Remember Athens.
E continuei a vaguear...
Tinha a missão de procurar flautas aqui pela Grécia e lá dei com duas lojas que vendiam instrumentos comum mínimo de qualidade. Estive a testar umas flautas que não conhecia e disse que talvez passasse no dia seguinte a comprar uma.
Depois lá dei com a Monastiraki que eu procurava mas as casas já estavam todas a fechar.
Liguei para o Joseph a perguntar se sempre podia lá ficar e se me podia vir buscar.

Lá fomos até casa dele, logo à saída de Atenas, longe dali que a cidade é grande, mesmo grande!
O dia já tinha sido grande mas ainda houve espaço para estar a falar sobre didgeridoo de forma intensiva, a tentar que ele me compreendesse que o inglês dele não era o melhor. Achei especial graça a uma coisa que ele disse que os gregos de hoje em dia não são os mesmos da Grécia Antiga, que aquilo foi outra civilização diferentes, it was a UFO you know! Compreendo bem o que ele sente.
Fomos até casa dele buscar a namorada e sair com uns amigos dele. E finalmente tive a minha lição de grego realmente importante. Aquilo que eu gosto de aprender em cada língua e que faço questão de ensinar aos entrangeiros em português - os belos dos palavrões. E aprendi gestos e tudo!

Ainda deu para ouvir esta pérola: ao falar do SVE a uma rapariga...
ela: ai que interessante e que sorte!
eu: também podes fazer.
ela: não que o meu namorado não me deixa.
eu: olha, a minha deixou!
Não consegui arranjar resposta melhor para tal barbaridade!

Chegámos a casa e ainda estive a dar-lhe um workshop e por volta das 3h30 pedi misericórdia que precisava de dormir!
Que dia...